Sunday, December 11, 2011

SINFONIA



Todas as noites, com perfeito controle de quanto avança
Sobre nós a madrugada, escalam os gatos da vizinhança
A planície inacessível dos telhados, e preparam-se,
Com os conhecidos ritos, para a aguardada performance.

Lambem as garras como se afilassem, ciosos de quem assiste,
O plectro dos instrumentos, extraindo a vivo uns sons de violinos.
E assim, vaza imenso dos tetos, sob a variação de vagidos finos,
Um concerto composto, os senhores pasmem, de acordes tristes.

Guálter e Jezebel são prole legítima dessas telhas espúrias,
Promiscuamente conjugadas sobre os sobrados geminados.
Caídos da mesma ninhada no terraço, dividem na casa os cuidados.
(In)diferentes que não se entende, que dirão da gente? Ora, coisa nenhuma.

Cinco meses. A castração solene nos pais subrogados desses rebentos
Gera a mesma tensão de uma menarca ou circuncisão.
Ao entregá-los, tremia de medo. Ainda aflito, vivos apanhei-os.
Antes de deixá-los dormir, tentei fazê-los comer, sempre em vão.

Meio dormidos, meio despertos, agora previsivelmente se refestelam
Em frente ao exautor da calefação. Um envolto no morno tecido do outro.
Hermeticamente encerrados dentro de si, helveticamente neutros.
Invejáveis bichanos enfim libertos do tirano maestro do sexo.

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