Tuesday, December 6, 2011

BORGES SENTADO NUM BANCO DE PRAÇA



essa dona que passa pela rua
uma estátua que desfila
nua
sei que é mulher pelos tamancos
se é feia ou bonita
é sempre engano
de quem olha sem saber enxergar
como o dia que escuto passar
quando faz menos noite
e que ninguém mais ouve
e sei que é manhã porque centelha
na minha branca cabeleira
e se fosse tarde já pungia
o odor de queima
nas minhas narinas
- pois há que estar cego para poder escalar
a torre das horas
e do arco da abóboda
contemplar
a clareira inteira do dia
vazia...
ó noite - the whole
unveiled world
full of untried stars and falling wishes!
porém, mais que de tempo,
a velhice
me enche de pensamentos
e penso com os sentidos mesmo baldios
como a um corpo vazio
completam os seus desejos
- tudo tudo isto
são só os balbucios
de um velho, concedo
mas não sou um velho rabugento
como aquele do Eclesiastes:
para onde quer que aponte os olhos só vejo
milagres

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