Saturday, December 17, 2011

NÃO DIGA QUE SE IMPORTA SE NÃO SE IMPORTA


"Então por que você responde às mensagens dele?"

Sem pausa para ter o tempo de inventar um pretexto,
responde com a voz plana e vagamente sonhadora:
"Acho que ele me ama.
E isso merece consideração, ou não?"

"A-mor? Temo que no caso o termo lascívia seria mais exato."
(Ou ao contrário, deveria ter dito a ela que eu
sentia o mesmo, correndo o risco de lhe roubar
o prazer de se sentir culpada?)
Hora talvez de trocar de tom.
"Além disso, isso por acaso é problema seu?"
Seguro com força a sua coxa,
a garra de um lobo.

"Mas eu me importo..."

"Não diga que se importa se não se importa,
guarde para quando se importar de verdade."

Ela cede, seus olhos caem pesadamente no chão.
"Mas com você se deixasse eu me importasse"

Meu peito derrapa em disparada, um comboio descarrilhado.
Como uma roda girando no vácuo,
um meio-sorriso força passagem na minha boca ressecada.
"Pode ser, mas talvez também não seja da sua conta."

Gagueja ao tentar dizer alguma coisa,
logo se cala em si mesma numa mudez atordoada.

Eu recolho as palavras que roubei nos seus lábios trêmulos,
as palavras que hoje levo para casa
como o mais caro dos meus prêmios.

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