Tuesday, December 27, 2011

NOITE DE ECLIPSE

na orelha bivalve, uma só mordida repartida
grita uma unha gretada no anular da esquerda
na cabeça, mil razões que se confirmam
ou se contradizem sem razão nenhuma

no bolso do paletó, uma foto embotada de suor
no avesso, um amor refugiado em tempo e espaço desencontrados
entre as mãos uma cintura, agarram este momento
os lábios em lábios duplicados, por quanto tempo?

no banco dianteiro, uma pergunta
suspiros confusos acordam a destinação
pneus percorrem nus a estrada escura
o taxímetro dispara, nos repara, ao fim se cala

no flanco da cama um lençol pendurado pede paz
o olho da lua finge que não distingue solidões quando contíguas
sobre a mobília um ventilador continua a nossa fuga
no relógio a hora destemida pisa um passo a mais

música se ouviria na algaravia dos ruídos, mas noutro dia
quando tudo fosse diferente, talvez do jeito que devesse ser
como saber? - e eram de novo o enlace de dedos, as meias palavras
mas, chegados ao termo, não foi dito nem registrado nada

além de um leve até mais breve
que dizia timidamente o contrário do que dizia sem dizer
o que se ouvia não era até breve de até mais breve ver
mas adeus resignado, adeus de nunca se ouvir dizer

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