Monday, January 2, 2012

SINFONIA



Todas as noites, com perfeito controle de quanto avança
Sobre o mundo a madrugada, escalam os gatos da vizinhança
A planície inacessível dos telhados, onde, em ordem, preparam-se,
Com os conhecidos ritos para a aguardada performance.

Lambem as garras como se afilassem, ciosos de quem assistisse,
O plectro dos instrumentos, extraindo a vivo uns sons de violinos.
E vaza então imenso dos os tetos, sob a variação de vagidos finos,
Um concerto composto, os senhores acreditem, de acordes tristes.

Guálter e Jezebel são prole legítima dessas telhas espúrias,
Promiscuamente conjugadas sobre os sobrados geminados.
Caídos da ninhada no terraço, dividem na casa os cuidados.
(In)diferentes que não se entende, que dirão da gente? Coisa nenhuma.

5 meses. A castração desperta nos pais subrogados desses rebentos
A mesma tensão solene de uma menarca ou de uma circuncisão.
Ao entregá-los, tremia de medo. Ainda aflito, vivos apanhei-os.
Antes de deixá-los dormir, tentei dar de comer. Como sempre, em vão.

Meio dormidos, meio despertos, agora previsivelmente se refestelam
Frente ao exautor da calefação. Um envolto no morno tecido do outro.
Hermeticamente encerrados dentro de si. Helveticamente neutros.
Anjos negros. Inocentes bichanos libertos do maestro tirano do sexo.

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