nos meus anos moços
fui o mais admirável
jovem e bardo
que podia ser escutado
nestas contradas
mas, depois de afogado,
não me foi mais dado
escapar desta morada,
feita de talo aprumado
e luz perfumada
por força de uma sentença
proferida em desfavor
da progênie do amor
- assim, diz-se de mim,
que também tive residência
dentro de uma torre de marfim,
trancado viçoso e vivo numa cela
almofadada de pétala...
todavia, enquando bardos não param
de cantar mais que o necessário,
também foi parte de minha pena
perder minha voz amena,
restando desde então isento
do poder de acender de novo
o arbusto de fogo chamado desejo
sustentei que um renovo
não pode servir de medida
para julgar da planta ainda não crescida,
nem responde pelo gosto dos seus frutos
verdes ou maduros
os julgadores não tiveram clemência
diante dos meus recursos
e me usaram como exemplo de culpa
a dissuadir as gerações futuras
de buscar fundo demais nas aparências
desse modo, meu destino e dos meus iguais
tem sido o eco deste silêncio eterno,
apenas por que nós homens
fomos feitos para ser
presas da mesma fome
que dois vazios amarra,
na solidão que cada vez mais aparta
toda metade da metade que se amara,
para que pudessem ser um só depois
de terem sido apenas dois
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