Thursday, January 12, 2012

AMOR - MODELO DE ARMAR


Todo amor
para que sobreviva
escolhe as suas armas
e as entrega às vítimas.

Bombons, bolhas de sabão
ou balas do ciúme.
Mentiras verdadeiras,
feitiços retentados e perfume.

Todo amor
para ser armado
necessita
daquilo de que mais não precisa.

Anéis confirmatórios,
eu-te-amos mas somente se reincididos
de modo espontâneo, papel
passado e filhos, mesmo os de aluguel.

Todo amor para ser esquecido
pede ao esquecido impossivelmente
que de si se lembre
ou então não se queixe.

Lembrar de quem não mais se é
não há de ser ofício fácil.
Pousar de novo sobre os próprios pés
nervos requer e mais ossos de aço.

Todo amor
para ser lembrado
pede devoção
como qualquer ídolo de barro.

O consolo frágil do falso perdão. Perdão resignado
que não foi rogado, nem podia ser dado
por quem deus não foi nem foi revelado.
Arma de amor enfim desarmado.

Todo amor
para poder morrer
pede o pedágio da dor,
remédio que nos mata sem reviver.

E após tanto descuidado de si e tempo escorrido,
não é fênix que sobra, mas cadáver que vive
aqui dentro escondido - não descansarão amor e suas obras
até que um dia nos exorcizem vivos.

Todo amor
somente para ser vivido
precisa não ter sentidos
ou tê-los mais que precisos.

Ser consistente por absurdo, ou a renúncia disso tudo.
Para vivê-la, ainda mais louca,
de nós pede e merece apenas
exatamente o que nos rouba: a vida toda.

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