Thursday, January 5, 2012

POR UM PÔR-DE-SOL ENTRE AMIGOS


a C.B. e G.S.

Noite insone em Curitiba.
As nuvens voam plumas.
Vamos pro James!,
meu melhor amigo me convida,
o rock é brit, mas nacional a bebida.
Olho pro céu desestrelado.
Como soam sempre frias
as constelações a ouvidos esfumaçados!
Retomba a sempiterna penumbra,
mas se levanta sobre a mortiça iluminação pública
um esforçado, invisível circo armado.
E cada poste comprido não despede raios apenas,
mas também a sua própria sombra oblonga,
que segura como um arco de tenda
a face acanhada de todas as coisas
que porventura sua luz pequena
no seu trajeto teimoso encontra.
E algumas ainda se esquivam
cheias de vergonha,
dos passantes que as olhassem,
pois é alta madrugada e a classe
burguesa ainda sonha.
Linda, que cidade linda,
e quanto é tímida, e louca e puta!
Por todos os lados se escuta
uma garoa falando fina
com suas vozinhas nenhumas,
e um horror insolente
de repente arrepia,
um medo de ficar só
no meio de tanta gente.
Pensei: que do Cássio e do Gil?
Exilados do desolado sul sem sol,
mas ainda brancos de dermatologista,
mais parecendo dois turistas,
nunca desviam para além do Rio,
rumo a estes nossos gélidos desvarios.
Mas é sempre menos noite,
se comigo os trago por onde
me arrastam consigo os caminhos,
pois quem me conhece adivinha sozinho,
nunca fui nem sou conhecedor dos meus destinos.
E olho ao redor e procuro
talvez alguém que se esconde,
só para me dar um susto.
Sim..., está mais claro, e contudo
a busca não tem fruto.
Então tento apalpar em meu corpo a fonte,
da qual ouço esses passos,
que me acompanham se vou sozinho,
e param assim que eu paro.
E que me animam se eu me retardo,
e dão ombro ao meu cansaço.
Talvez algum gesto aprendido,
malgrado o pouco convívio, daqueles
que os amigos sempre
aos amigos comunicam.
E, por isso, às vezes, juro
reconhecer em algum deles
outro a quem procuro,
ou até mesmo, quem dera, um amigo futuro...
E, não fosse esse quase nada,
onde quer que fosse
era tudo somente noite.
E falta.
Falta grana e trabalho,
falta tempo e descaso,
falta ardor e cuidado,
em bom palavreado,
falta amor, porra (rsrs)!,
e mais um pouco de todas aquelas coisas
desnecessárias ou de que é preciso
para se poder melhor viver
(quem sabe um nascer de sol com amigos?).
Mas hoje, talvez, porque
é fim de salário
ou meio do mês,
faltam, repito, nada e tudo,
mas, sobretudo
faltam
vocês.

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