Você tinha sido o meu cara.
Eu tinha sido a tua dona.
Eu te havia pago uma soma.
Já você, com ouro pagara,
Que nos ardeu num fogo a dois.
Calados o fogo e as suas cinzas,
Vimos as centelhas de nós
Reacender a fogueira extinta.
Você me cedera o teu nome,
Eu só ofereci minha fome.
Teu choro me ensinou o som.
Mas eu te retornei teu dom,
Ao te largar só nos caminhos,
Onde só dois seres sozinhos
Podem estancar o rio do nada,
Mandando os pés moverem a estrada.
Um dia eu fui o teu paizinho,
E você, minha mulherzinha.
Você me deu um ventre sem vinho,
Lá cresceu minha erva daninha
Que nos alimentou um dia,
Tão breve que pareceu ser
A eternidade. Todavia,
Pouco tardou em nos morrer.
Eu tinha sido o teu carrasco,
Enquanto você, minha puta.
Rufiões têm sua linguagem espúria.
E você, usava o grego ático.
Uma só língua pra falar
Jamais pôde ser o veículo
Com que logramos conversar:
Se você entende estes ruídos,
Ninguém crerá. Pois não pretendo
Sequer roçar os teus ouvidos.
Não me importa ser compreendido.
Hoje falo a sós com o ridículo.
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